Grande parte das casas de análise foram surpreendidas pela decisão do Copom em manter estável a taxa Selic em 6.50% ao ano, entretanto, especialistas na área manifestaram compreensão em relação ao órgão federal, ponderando que os fundamentos justificam o corte adicional.
Segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, a desvalorização do real e a piora do cenário externo dão razão à decisão, já o posicionamento do grupo Goldman é que a aposta dos analistas no corte de 0,25 ponto percentual teve como origem uma falha de comunicação com o mercado.
De acordo com Ramos, o Banco Central teme o quadro externo, já olhando para o mercado internacional como “mais desafiador e volátil.” Já o economista-chefe do Santander, Maurício Molon, acredita que o BC ainda vê o cenário externo favorável ao Brasil em relação ao exterior. “O cenário não mudou, o que mudou foi o balanço de risco, ou seja, a probabilidade de a situação externa piorar” e completou: “a decisão da autoridade demonstra um viés mais cauteloso diante da volatilidade dos ativos internacionais e da taxa de câmbio”, disse ele.
Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, diz que o ano de eleição no Brasil e a fraca percepção econômica no país contribuíram para que os problemas no resto do mundo pesassem contra o Brasil. O especialista alega que os próximos passos do BC são incertos e dependem do comportamento da economia daqui para frente, podendo até haver novos cortes na taxa Selic em caso nova queda.
A diretora da área de macroeconomia e política de Tendências, Alessandra Ribeiro, ao contrário da maioria dos analistas, vê a decisão do Copom como conservadora. “Os dados de atividade têm decepcionado, mostrando que a recuperação está mais fraca, a inflação continua surpreendendo para baixo, e mesmo com impacto da depreciação cambial, a inflação deve ficar baixo da meta neste ano e não compromete a meta do ano que vem, ou seja, haveria espaço para o corte adicional.” Mesmo com a opinião contrária, Alessandra reconhece que a preocupação com o mercado externo ganhou mais a relevância após o comunicado do Copom.
A previsão da Capital Economics para a retomada do ciclo de aumento de juros é para dezembro deste ano, com a Selic encerrando o ano em 7%, para chegar a 8.5% no final de 2019. Bruno Lavieri, da 4E, ressalta que os aumentos de juros podem ocorrer mais cedo numa possível agravação da situação, prevendo uma alta da Selic entre março e outubro de 2019, com taxa de 9% ao ano.
Apesar disso, a Tendências acha que a Selic permanecerá estável até setembro do ano que vem, época que o Banco Central recomeçaria as altas, prevendo uma taxa básica de 7.75% no final deste ano e 8.50% ao início de 2020. O Santander mantém a projeção Selic em 7.50% e 8.50% no final de 2018 e no final do primeiro trimestre de 2020, respectivamente.
Fonte: Valor